Toledo é a antiga capital de Espanha, a
sua capital natural, e uma das cidades medievais mais encantadoras de toda a Espanha.
Logo que descemos na estação de comboio encontramos os primeiros traços dessa convivência multicultural do passado. A estação por si só é um monumento, construída em estilo árabe a imitar as torres das igrejas da cidade. O interior da estação é igualmente admirável, com janelas adornadas com vitrais no melhor estilo árabe e, do lado de fora, uma enorme torre do relógio.
Por falar em torres de igreja, a nossa primeira visita foi à Catedral de Toledo, pois queríamos subir ao topo da torre e isso é algo que convém fazer enquanto não se tem muitos quilómetros nas pernas.
A Catedral de Santa Maria de Toledo ou Catedral Primada de Toledo é o ponto central da cidade, rodeada de inúmeras vielas estreitas e sinuosas, repletas de lojas que vendem desde antiguidades a produtos locais.
Mandada construir no século I, por S. Eugênio, durante a invasão árabe foi transformada em mesquita e, posteriormente, recuperada e reconstruída no estilo gótico que conhecemos actualmente.
Mal entramos sentimos a grandiosidade, o peso histórico e poder católico em toda a sua dimensão. O simbolismo começa logo nas três grandes portas de entrada (com mais de cinco metros de altura): A Porta do Perdão (a central); a Porta do Juízo Final e a Porta do Inferno (usada apenas na procissão do Domingo de Ramos).
No interior o destaque vai para o El Transparente, uma técnica de construção que apenas vimos aqui. Uma abertura na parte de trás da Catedral ilumina o altar para, a uma determinada hora, desde que haja sol, dar a impressão de elevá-lo ao céu.
Imperdível é também a Sala do Tesouro e o Grande Ostensório de Toledo. São duzentos quilos de ouro (dizem que é o primeiro ouro que chegou a Espanha vindo das Américas) cobertos de esmeraldas, safiras, diamantes e pérolas e que sai às ruas de Toledo quando se realiza a procissão de Corpo de Cristo. Aqui temos que reconhecer que são destemidos.
Finalmente a subida à
Torre. Compramos o bilhete e aguardamos à entrada da torre que está protegida
por um portão gradeado de ferro. O guia abre o portão e volta a fechá-lo à
chave após a nossa entrada. Se houver algum fraquinho que queira desistir, quando
descobre que são noventa metros de altura, não pode sair sem os outros terminarem
a visita e regressarem. Castigo por ser fraquinho.
Para quem subiu teve oportunidade de tocar no sino de São Eugênio ou Campana de San Eugénio ou La Campana Gorda, de dezoito toneladas que, reza a lenda, só tocou uma vez e rachou.
Terminada a visita regressámos à Plaza Mayor. No final do século XVI, esta praça, onde se encontra o atual Teatro de Rojas, era enquadrada entre a Catedral, os açougues, a rede pesqueira e o Mesón de la Fruta (1575). Este último ocupou o local, embora menor, onde hoje está o Teatro de Rojas.
Foi a caminhar sem destino que chegámos à Calle Samuel Levi, onde está a Sinagoga del Trânsito e Museu Sefardita. Nunca imaginaríamos ao olharmos para este edifício austero, com o típico campanário das igrejas paroquiais, que esta é uma sinagoga judaica. Porém a austeridade externa contrasta radicalmente com a decoração suntuosa do interior, com paredes repletas de ricos painéis de madeira de lariço ornamentados com incrustações de marfim.
Mandada construída por
ordem de Samuel-ha-Levi Abulafia (daí o nome da rua) a sinagoga, foi
idealizada para ser o oratório de um palácio, com a qual tinha ligação diretca,
palácio este que já desapareceu há muito.
A sinagoga também teve um percurso conturbado e os diversos contextos históricos fizeram dela uma igreja, arquivo de ordens militares, ermida e, por fim, um museu sefardita que visa preservar o legado da cultura hispano-judaica.
Mesmo ao lado, num edifício renascentista com pátios e jardins mudéjares, está instalada a Casa Museu El Greco. Esta não é a casa onde o artista viveu, mas uma casa similar, e muito próxima do local original. A actual casa erguida no início do século XX, e inaugurada em 1912, uniu um edifício do século XVI e um palácio renascentista para reunir, no mesmo espaço, a obra dispersa do artista. O Marquês de la Vega-Inclán foi quem adquiriu estes edifícios e decorou-os com móveis e acessórios do século XVI, reconstituindo o quotidiano do pintor.
Nascido em Creta, com o nome Doménicos Theotokópoulus, chegou a Toledo em 1557, cidade onde passou o resto da vida. Aos 36 anos, El Greco montou na cidade um bem sucedido atelier onde foram pintados inúmeros quadros para igrejas, conventos e palácios não só para a região de La Mancha como para toda a Espanha.
O acervo do Museu Casa de El Greco reúne, principalmente, as obras do último período do artista e dá realce não só á figura do pintor, mas também à sua influência no Toledo do início do século XVII. Completam o acervo do museu algumas obras do seu principal discípulo Luis Tristán e do seu filho Jorge Manuel que deu continuidade ao atelier do pai, após sua morte.
O dia já vai longo e terminámos a nossa visita no ponto alto da cidade As torres do do Alcázar podem ser vistas a quilômetros de distância, mas quando chegamos junto do edifício constatamos que a sua dimensão é realmente impressionante. A área em redor do palácio é igualmente interessante, destacando-se o Paseo del Carmen, o parque que oferece vistas maravilhosas do Rio Tejo e das cercanias de Toledo. Dos dois miradouros que ficam, literalmente, na ponta da falésia, é possível ter uma ideia de quão especial é a localização da cidade.
A existência do Alcazar está documentada desde o séc. III, quando era um palácio romano. Foi continuamente restaurado ao longo dos séculos, mas a modificação mais profunda acontece no século XVI, quando foi reconstruído em redor de um pátio retangular com uma configuração robusta e compacta. Ao longo dos séculos foi residência de monarcas, prisão e quartel militar. Durante a Guerra Civil Espanhola foi um ponto de resistência da Guarda Civil e por isso foi quase destruído pelas tropas republicanas, durante as investidas que duraram 70 dias. Após nova reconstrução alberga até hoje o acervo da Biblioteca de Castilla-La Mancha e, desde 2010, o Museu do Exército.
Dica: Em termos de tamanho, o centro histórico de Toledo é pequeno. Apesar
disso, os monumentos e locais de interesse são tantos tão ricos em termos de
história que para sentirem que conheceram e sentiram Toledo um dia inteiro quase
não chega.
Sem comentários:
Enviar um comentário