Segóvia

 


Porque a época medieval nos fascina, deslocamo-nos noventa quilómetros a norte de Madrid, até Segóvia, uma pequena cidade imersa em história e repleta de monumentos bem preservados conforme atestado pela Unesco em 1985 ao elegê-la Património Mundial da Humanidade. Tal como Ávila esta herança cultural é fruto da mistura das três culturas diferentes que conviveram na cidade durante a época medieval: cristãos, mouros e judeus.

Segóvia guardava para nós as mais agradáveis surpresas. A estratégia foi começar a caminhar em direção ao centro histórico. Devagar, a sentir a cidade. Assim, e sem sabermos como, chegámos ao Convento de San Agustín.

Estávamos na Plaza de los Caídos, Barrio de los Caballeros (soubemos depois). O Convento, fundado em 1555, teve um tempo de glória porém o confisco de Mendizábal levou ao seu abandono. Cedido ao Exército em 1835, a igreja recuperou-o em 1853 para o transformado em armazém de carruagens. Ao longo de décadas as diferentes dependências conventuais deram lugar a casas particulares (Calle de San Agustin) e, por incrível que pareça, a igreja foi demolida em 1915 para dar a lugar a uma clínica.

De todo o complexo original apenas chegou até nós a parede por de trás do altar onde ainda se adivinham alguns elementos góticos. Após a Guerra Civil esta mesma parede serviu de memorial aos que caíram na guerra, cujos nomes foram ali gravados.

Meia dúzia de passos mais à frente, chegámos ao nº 4 da Calle Colón, onde se ergue o Torreón de los Arias Dávila, uma construção militar do século XV que serviu de defesa e torre de vigia. Os seus interiores dizem que permanecem inalterados, mas não é possível entrar porque actualmente funciona aqui o Ministério das Finanças.

A meio caminho para a Catedral damos connosco na Plaza de San Martin, uma das mais bonitas da cidade. Dizem os historiadores que aqui existiu um complexo de banhos romanos, em tudo idêntico aos que funcionaram em Roma.  O local preciso é onde agora se ergue o Torréon de Lozoya (um centro de exposições) mas que preserva vestígios deste complexo nas suas fundações.


Mais uma breve caminhada e estamos na Plaza Mayor, no coração do centro histórico. Cercada por vários prédios históricos como o centenário Teatro Juan Bravo, pequenas lojas, bares e restaurantes e no topo a Catedral de Nuestra Señora de la Asunción y San Frutos.

A Catedral de Segóvia, também conhecida como Dama das Catedrais, foi a última catedral de estilo gótico construída na Espanha, entre os séculos XVI e XVIII, quando na maior parte da Europa já estava em expansão a arquitetura renascentista, dai que seja possível identificar na sua construção também alguns traços renascentistas.

A catedral possui, três abóbadas, dezoito capelas, túmulos de figuras importantes na história da Espanha, um museu, um imponente e elegante claustro, uma sala capitular decorada com tapetes de origem medieval e uma torre com oitenta e oito metros de altura. É considerada uma das maiores de todo o país. Preparem-se para qui gastar algum tempo.


Continuamos a nossa incursão, e de caminhada em caminhada, com desvios e paragens já fizemos vários quilómetros, mas não nos vamos ficar por aqui. Próxima paragem Plaza del Azoguejo, 1 para o ex-libris da cidade, o monumental Aqueduto Romano

Construído há mais de dois mil anos, por ordem do Imperador Domiciano, o aqueduto tinha como função transportar água da Serra de Guadarrama para dentro da cidade, função que cumpriu até meados do século XIX.

Importa muito salientar que tem vinte e oito metros no seu ponto mais alto (precisamente no centro histórico), mais de quinze quilómetros de extensão (dos quais muitos são subterrâneos) e cento e sessenta e sete arcos feitos em pedra de gratino e nenhuma destas pedras está unida por algum tipo de argamassa. Elas mantêm as suas posições, há dois milénios, através de um engenhoso equilíbrio de forças. Dá que pensar quando vemos a envergadura deste monumento ao pé de nós.

Em perfeito estado de conservação domina a paisagem do casco viejo desde a sua construção, sendo hoje um dos monumentos antigos mais importantes deixados em território espanhol pela civilização romana.

E para quem já andou tanto, não será uns míseros dois quilómetros que nos vão demover de ir a pé até ao famoso Alcazar de Segóvia.


Construído num formato singular, este é um palácio fortificado construído num local privilegiado do ponto de vista defensivo: sobre um penhasco rochoso na confluência dos rios Eresma e Clamores, com as montanhas de Guadarrama em pano de fundo.


Ao longo dos séculos, o Alcazar de Segóvia teve várias funções desde fortaleza islâmica, prisão, Palácio Real, Colégio Real de Artilharia, Academia Militar até servir de palco do casamento de Isabel I com Fernando II de Aragão e da sua coroação como Rainha de Castilla e León, em 1474.


Apesar das várias alterações de funções ele manteve-se tão bonito por dentro quanto por fora. Repleto de ornamentos rebuscados, detalhes dourados e elementos com um ligeiro toque mourisco. Os aposentos reais são ricamente decorados e os tetos são verdadeiras obras de arte.


Este foi mais um dia de descoberta, um dia cheio de muita caminhada, cascatas de fotografias e a sensação de um fantástico dia vivido.

Dica: Para além do deslumbre com as várias igrejas e palácios, reparem nas fachadas cobertas com Esgrafitos. Uma técnica ornamental que consiste em cobrir as fachadas dos edifícios com duas camadas de cores sobrepostas, para depois fazer incisões até à mais profunda e jogar com os contrastes. O resultado final é uma espécie de um baixos-relevos que envolve toda a casa e que dá uma aparência única.

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