Santuário Madonna di San Luca ou a Maratona Matinal

 

A espontaneidade é uma forma de nos surpreendermos quando andamos de mochila às costas, mas por vezes esquecemos que as surpresas podem ser maiores do que imaginamos. 

Na cidade dos porticos e arcadas, uma destaca-se: a maior estrada coberta por arcadas do mundo, que serpenteia por quatro quilômetros a partir do centro de Bologna até chegar ao Santuário Madonna di San Luca.

Mas ninguém nos avisou, e assim começamos a subir, só um bocadinho, até ali acima. Que ingenuidade!

Hoje sorrio quando me lembro. Esse bocadinho foram apenas quatro quilómetros, divididos entre uns 1 520 metros percorridos em plano e os 2 276 metros em subida com degraus. Áh, pois foi! Da Porta Saragoza, onde iniciamos a nossa caminhada, até a Basílica são 666 arcos e 15 capelas (oratórios).

A inclinação do primeiro arco até a entrada da igreja é de 215 metros e a inclinação máxima no troço da colina chega a 18 %, mas a inclinação média é de 10,8%. São mais que fundamentos para dizer que demos tudo de nós e queimamos ali todas as pizzas e cannoli comidos, e por comer, nestas férias.

O caminho começa em plano e depois de cruzar o Arco del Melondello começa a subir em paralelo com a Via di S. Luca.


E como fomos de manhazinha não havia ninguém a quem perguntar se faltava muito até ao fim. E lá fomos nós, arcada após arcada (seis centenas ainda é muita coisa), degrau após subida, com um pequeno oratório de vez em quando, inscrições nas paredes, de vários séculos, com o nome de famílias que fizeram doações para a realização deste grande (e extenso) projeto.

Construído entre 1674 e 1793, o caminho faz várias curvas, serpenteia em torno das colinas de Bologna até ao Santuário, localizado sobre o Colle della Guardia, um promontório coberto parcialmente por bosques, onde chegámos com a sensação de vitória e tarefa cumprida.

Também devem informar-se do horário do Santuário, coisa que não fizemos. Depois da estoica subida, e de recuperar o folgo, estava encerrado! Salvou-nos o único restaurante existente onde repusemos todas as calorias até a abertura.

Mas agora que a surpresa passou, temos a dizer que esta subida é dos passeios imperdíveis fora da cidade, pois para além de conhecer o santuário e a sagrada pintura bizantina da Madonna di San Luca podemos apreciar a linda vista das colinas bolonhesas.

 

Para os incansáveis também é possível subir 100 degraus que dão acesso à cúpula da Basílica a trezenos metros acima do nível do mar e ter uma visão 180º de Bolonha e arredores. Desta feita não fui, porque considero quatro quilómetros de arcadas e degraus são o meu limite diário.


Os amáveis funcionários acompanharam a nossa visita e fizeram um enquadramento histórico: O Santuário, dedicado ao culto mariano, foi construído no século XVIII para substituir um anterior, do século XV, mas as origens remontam a 1194, ano da construção de uma pequena igreja que na altura recebeu uma bela imagem da “Madonna con il Bambino” ainda hoje adorada pela população.

Para baixo também viemos a pé pelas arcadas e confirma-se a teoria que quando sabemos o que nos espera custa muito menos. E a descer custa ainda menos.

Dica: Para os que não gostam de ser surpreendidos desta maneira, pode utilizar a carreira 58 da TPER (só quando chegámos ao topo é que descobrimos):

 https://www.tper.it/content/linea-58-villa-spada-basilica-di-san-luca

Dica: Sapatos confortáveis, mochila leve e garrafa de água.

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