Portuguesa desde que nasci, Católica desde que me conheço, rebelde na adolescência cimentei a minha fé depois de duvidar com veemência de tudo o que a Igreja me transmitia.
Somos aquilo que nascemos, que desenvolvemos, que aprendemos, que apreendemos…
Somos aquilo que queremos ser, que lutamos para ser e que transmitimos aos outros…
Somos o produto, o somatório de tudo isto, por isso, ainda tenho muito da adolescente rebelde que duvidou de todos os dogmas da Igreja, da fé dos outros e da sua própria fé.
Ainda tenho muito dessa pessoa que critica acerrimamente muitos dos comportamentos e das atitudes dos crentes e das autoridades da Igreja.
Com este resquício de rebeldia, assisti à Missa no Terreiro do Paço, Missa celebrada por um Papa que considerava muito “fechado”, “antiquado”, “conservador”…
Acordei, no dia 11, com a sensação de ter que me preparar para uma festa, nervosa e ansiosa. E foi assim que passei toda a manhã. Às 13h tinha pressa em chegar à baixa da cidade.
Senti o meu coração acelerar um pouco, a ansiedade a aumentar e o nervosismo a acalmar. Encontrei alguns amigos e caminhámos, lentamente, pelas ruas do Chiado.
Chegados ao Terreiro do Paço, não nos cabia o mundo nos olhos. Eram muitas pessoas, era um ambiente de festa, era uma sensação de magia no ar.
Andámos “frenéticos” de um lado para o outro, a ver onde poderíamos estar melhor, queríamos estar perto do altar, mas também queríamos ver tudo o que se passaria à nossa volta.
Nem sei explicar o que se sentia. A atmosfera era de festa, realmente de festa. Ao contrário do que eu esperava, não havia manifestações “beatas” de fé… Havia muitas e grandes manifestações de alegria… As pessoas sorriam umas às outras, cantavam, brincavam… e aguardavam pacientemente.
Com o aproximar da tarde, o recinto foi ficando cheio… Quando anunciaram a chegada do Movimento de Jovens “Eu Acredito”, filmaram a Rua da Prata e viam-se 10 mil jovens de camisolas azuis a caminhar para o Terreiro do Paço… Era uma imagem arrepiante. A emoção de ver tantos jovens caminhando firmemente, esvanecia as minhas dúvidas de participação e fazia com que os meus olhos transbordassem de lágrimas.
Este Papa que eu considerava que iria atrasar “ainda mais a Igreja” tinha congregado em Lisboa, tanta e tão diversa gente, que me dava a certeza de só poder estar ali naquele momento, não poderia ter estado noutro lado.
Às 17h15, o recinto fez o primeiro grande momento de silêncio… os ecrãs espalhados davam noticia de que Bento XVI já se dirigia para lá…
Primeiro fez-se silêncio, depois bateram-se palmas e ecoaram vivas…
O Papa vinha em nossa direcção, vinha ver-nos, vinha estar connosco, vinha abençoar-nos…
Foi uma multidão exuberante de alegria que recebeu o Papa no Terreiro do Paço, sem saber escolher de que forma se manifestar… Não sabíamos se devíamos bater palmas, agitar bandeiras, benzer-nos, gritar vivas ou cantar.
Toda a celebração foi de uma intensidade que tocava o meu coração e me enchia a cada minuto de alegria, emoção e paz…
As palavras do Cardeal Patriarca de Lisboa, levavam ao Papa os sentimentos profundos de todos os presentes…
Os cânticos levavam ao Papa, de forma magistral, a fé de um povo de missionários e de crentes…
As palmas eram a forma efusiva com que escolhíamos acarinhar a presença de Bento XVI.
A homilia foi o cimentar de todas as certezas… Aquele eram o Guia Espiritual da Igreja, aquele não era um Papa, era o Papa.
Depois da homilia, uma voz pedia-nos um momento de reflexão e as 150 mil pessoas que ali se juntaram, fizeram um silêncio ensurdecedor…
Um silêncio que regenera, que congrega, que une…
Esse silêncio permitiu-me uma viagem até ao mais íntimo de mim própria, permitiu-me uma viagem pela minha memória, pela minha vida, pelos meus medos, pelos meus anseios, pelas minhas dúvidas, pelas minhas certezas… Pela minha fé!
O que experimentei no Terreiro do Paço foi a regeneração de mim própria e da minha fé…
O que assisti no Terreiro do Paço foi a uma manifestação de uma igreja renovada e regenerada…
Quem acolhi em Lisboa foi o homem que me une a todos os que acreditam…
A viagem que fiz foi a da minha própria alma, até mais perto do meu Deus.
By Sandra Rego
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