Perpignan

 

Depois de 140 quilómetros de Barcelona até ao Teatro-Museu Dalí, em Figueres, seria uma pena não apanhar o TGV para qualquer coisa como vinte minutos de viagem até Perpignan.


Uma decisão de impulso que acabou por não ser no melhor dos dias, pois havia greve geral e muitos serviços estavam encerrados, incluindo os postos de turismo.


Um pequeno contratempo que não deixámos que estragasse o dia, em primeiro lugar porque conhecíamos um pouco da história da cidade e em segundo porque a sorte nunca nos deixou ficar mal.


Ao longo dos séculos esta pequena cidade seduziu grandes artista como Picasso, Salvador Dalí, Matisse, Pau Casals ou Maillol. Sita na Catalunha do Norte, nos Pirenéus orientais, região de Occitania, é a capital histórica do Rosellón e pertence a França desde 1659.

Mas a sua história é conturbada. Primeiro esteve nas mãos do Conde de Empurias, depois passou para o condado de Barcelona. Durante mais de duas décadas, foi capital do Reino de Mallorca sendo, mais tarde, anexada a coroa de Aragão-Catalunha.

Durante a Guerra Civil Espanhola, no começo de 1937, Perpignan viu as ruas e praias serem evadidas por refugiados espanhóis que chegavam a França por mar ou através dos Pirenéus, que atravessavam a pé durante longos dias. Já durante o regime franquista (1939-1975), os espanhóis voltaram a visitar Perpignan desta feita para ver os filmes proibidos na Espanha, como o último Tango de Paris.


Hoje é uma cidade pequena e pacata, com um centro histórico onde se multiplicam bares simpáticos e lojas agradáveis e elegantes. A típica cidade para se conhecer a pé, andar pelas ruas e perder-nos nelas.

As nossas deambulações levaram-nos até à Rue des Archers, no centro histórico onde ser ergue o Palácio dos Reis de Mallorca. Datado do século XIII e erguido pelo rei de Maiorca, Jamie II, que desejava ter uma residência na capital continental do seu reino, o palácio foi a base do reino efêmero da cidade na época em que Perpignan era considerada o coração económico, político e cultural da região mediterrânea medieval.

A construção começou num estilo romano tardio, mas ao longo dos anos que demorou a sua construção transitou para o estilo gótico. Destacam-se a imponente Torre da Homenagem, que servia de entrada, a capela interior, ornada com um portal de arcos de mármore azul e rosa, os aposentos reais (alguns ainda mantém as decorações originais) e a vista que se estende até o monte Canigou. A opulência deste palácio impressionante não nos deixa indiferentes.


Saindo do palácio, atravessando o centro histórico, chegamos à Rue de l'Horloge, onde se ergue a Basilique-Cathédrale de Saint-Jean-Baptiste que se distingue pela sua dimensão. São oitenta metros de comprimento por vinte seis metros de altura. Mas particularidade mais valorizada pelos locais são as duas relíquias de São João Baptista aqui guardadas.

Mas se tivermos que indicar o local que se distingue pela originalidade é, sem dúvida, o claustro-cemitério de Saint-Jean, conhecido como Campo Santo, geminado com a Basílica, e que é o maior e mais antigo cemitério medieval da França. Assim que chegamos a primeira percepção é de grandeza. Cada lado tem de cerca de 56 metros, cercado por túmulos em forma de arco, que originalmente formavam quatro galerias, três das quais ainda permanecem intactos.  Uma sucessão de pórticos góticos, em mármore branco, ostentam os escudos e armas das então famílias nobres de Perpignan.

A construção deste curioso sítio iniciou-se no início do século XIV e o ossário central foi escavado em 1321. A nordeste, a capela funerária, dedicada a São João Evangelista, construída no final do século XIV, adornada com vistosos vitrais, destinava-se a cerimônias fúnebres.


Os séculos passaram e o Campo Santo deixou de ser cemitério há muito tempo. Agora, para além de um valioso testemunho histórico, é cenário para concertos de verão ao ar livre.


Um pouco mais a baixo os nossos passos levaram-nos até à Rue de la Main de Fer e à Casa Xanxo, um dos edificios  mais conhecidos de Perpignan. De estilo gótico, o que a torna motivo de interesse é a decoração da fachada, especialmente o insólito friso, com inúmeros personagens mitológicos de ar estranho e ameaçador. 

Os locais afirmam que se trata de uma representação do inferno e dos sete pecados capitais.  A entrada é gratuita e no interior poderá ver uma exposição sobre a cidade de Perpignan, a decoração interior essa é muito mais sóbria.


O dia estava a chegar ao fim, mas pelo caminho ainda ficaram umas horas de esplanada onde saboreamos umas excelentes moules à la marinière que em nada ficaram atrás das cozinhadas pelos vizinhos belgas. Fica a sugestão!

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